quarta-feira, 8 de maio de 2013

Volta da Estrada do Colono implica em múltiplas ameaças ambientais


Pesquisadores dizem que movimento de pessoas e veículos causaria diversos danos ao parque. Possibilidade está sendo discutida no Congresso

*Matéria Publicada originariamente na Gazeta do Povo

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08/05/2013 | 00:12 | KATIA BREMBATTI
Passada uma década do fechamento da Estrada do Colono, no Parque Nacional do Iguaçu, a mata já retomou seu lugar. Árvores com até dez metros de altura ocupam hoje o que chegou a ser terra amassada por pneus. À exceção das marcas que ficaram nas duas extremidades dos 17 quilômetros em meio à floresta localizada no Sudoeste do Paraná, quase nada lembra que por ali havia uma passagem. É o que contam funcionários do parque e pesquisadores, preocupados com o impacto que a movimentação de pessoas e veículos poderia representar ao mais significativo remanescente de Mata Atlântica no Sul do Brasil. A possibilidade de reabrir a estrada está sendo discutida no Congresso Nacional.
Apolônio Rodrigues, vice-diretor do parque, reforça que não se trata de simplesmente voltar a usar um espaço já preparado para o trânsito. Seria necessário derrubar cerca de 170 mil metros quadrados de mata e fazer obras, como pontes. Depois do impacto de implantação viriam os danos decorrentes do uso. Rodrigues trabalha na unidade há 22 anos e assistiu de perto o que acontecia quando a passagem estava aberta. Caçadores, contrabandistas, traficantes, ladrões de carro e palmiteiros eram presença frequente. A passagem de veículos afastaria animais das proximidades da estrada, levando junto os predadores naturais, e assim romperia-se o equilíbrio ecológico do lugar.
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Carta
Leia carta contra a reabertura da Estrada do Colono escrita em 1998, ao presidente Fernando Henrique Cardoso, pelo neto da ambientalista Teresa Urban.
“Eles iriam chegar mais perto de propriedades particulares, matando animais domésticos, e acabariam mortos”, comenta Rodrigues. Atropelamentos de animais também podem aumentar. Uma estrada ainda traz mais riscos de infestação de plantas invasoras e de doenças para animais silvestres.
Pesquisadores alertam sobre pressão humana
A pesquisadora francesa Anne-Sophie Bertrand monitora a presença de mamíferos no Parque Nacional do Iguaçu desde 2006. A atenção se concentra em grandes felinos, que precisam de espaço para se desenvolver e caçar. Nas 68 mil fotos que coleciona, três vezes aparecem pumas. As câmeras instaladas na mata não flagraram nenhuma onça pintada. O monitoramento mostrou o ser humano como o “animal” que deixou mais marcas no parque (294 registros contra 158 do segundo animal mais abundante, o veado-mateiro). A pesquisadora argumenta que, se com a estrada fechada a presença humana já é forte, a abertura ampliaria o impacto no parque.
“A abertura da Estrada do Colono seria a última facada para a frágil vida encontrada no parque”, lamenta. Anne-Sophie conta que frequentemente se depara com jiraus, cevas e saleiros ativos, estruturas deixadas na mata por caçadores e palmiteiros, além de várias picadas abertas e ativas. Para ela, o conceito científico de “floresta vazia”, quase sem animais, está rondando o Parque Nacional do Iguaçu. “Desse jeito, meus filhos não vão ver onça pintada no parque”, diz.
O professor Arnaldo Ricobom fez a pesquisa de mestrado no início dos anos 2000, com a Estrada do Colono ainda aberta. Ele, que trabalha no curso de Geografia da Universidade Federal do Paraná, avaliou aspectos de degradação ambiental no Parque Nacional do Iguaçu. A abertura da estrada representa, na avaliação de Ricobom, a exposição a problemas, como facilidade de acesso para infratores, circulação de animais carregados pelos veículos que levariam doenças às espécies nativas, poluição, animais atropelados e a infestação de plantas oportunistas.
Andamento
Um projeto de lei para tentar legalizar a abertura da Estrada do Colono está em análise na Câmara Federal. O projeto foi aprovado por uma comissão especial, formada por um número reduzido de parlamentares. Uma intervenção da deputada federal Rosane Ferreira (PV-PR), que reuniu assinatura de 85 deputados, exige que o projeto só siga adiante se passar pelo plenário, com aprovação da maioria dos 513 parlamentares.
Estrada-parque
O projeto de lei cria uma nova modalidade e altera a lei de unidades de conservação. Contudo, ambientalistas questionam o uso do termo estrada-parque para definir o que está sendo proposto. O modelo prevê a recuperação de áreas degradadas e não a intervenção em unidades protegidas – a transformação de estradas em parques e não de parques em estradas. Também só seria possível se a estrada tivesse uma beleza cênica excepcional, o que não é o caso.
Mobilização
O Parque Nacional do Iguaçu corre o risco de perder o título de Patrimônio da Humanidade. No início dos anos 2000, quando a questão da estrada estava novamente sendo discutida, a Unesco classificou a unidade como sítio ameaçado. Representantes de várias entidades ambientais se reuniram para evitar a reabertura da estrada. O Ministério do Meio Ambiente deve ser pressionado a se posicionar contra a intervenção.
Histórico
A Estrada do Colono nunca foi oficialmente aberta. Havia uma ligação de terra entre as cidades de Serranópolis do Iguaçu e Capanema, que o governo pensou até em asfaltar, na década de 80. Começou uma batalha judicial, com uma série de decisões favoráveis e contrárias à estrada. Em 2001, a passagem foi fechada pela Polícia Federal. Em 2003, acabou reaberta por moradores, mas novamente interrompida após alguns dias.
Posição
Governo do estado diz que prefere aguardar desenrolar da discussão
O governador Beto Richa ainda não tem uma posição a respeito do assunto e prefere aguardar o desenrolar da discussão na Câmara Federal. Encaminhada por sua assessoria, a resposta do governo foi a seguinte. “É uma decisão que demanda muita responsabilidade, se preocupando com a questão ambiental e dos cidadãos do entorno”. Já o secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, se manifestou contrário à reabertura. “Ao abrir a estrada, estamos criando mais uma demanda para o precário sistema de gestão das unidades de conservação”, afirmou.


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Das 50 maiores obras no mundo, 14 estão no Brasil

Juntas, elas movimentam alguns milhões de m³ de concreto, mas avançam lentamente por causa de entraves burocráticos
Por: Altair Santos
Entre projetos já em andamento e ainda não iniciados, o Brasil detém 14 das 50 maiores obras de infraestrutura do mundo. Elas ocupam posição de destaque no ranking, seja por qual ângulo que se queira analisar. 
Sob o ponto de vista de recursos, equivalem a R$ 250 bilhões. Olhando-se pelo volume de concreto, são empreendimentos que precisarão, no mínimo, de 26,3 milhões de m³ para serem concluídos.

Cinturão das Águas no Ceará: obra leva irrigação para produção de frutas no nordeste brasileiro.
A previsão era que todas as construções – boa parte delas vinculadas ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) – fossem concluídas até 2015. Mas hoje estima-se que muitas podem se estender até 2020. Um exemplo clássico é a usina de Belo Monte, no rio Xingu, dentro do território do estado do Pará. Iniciada em 2011, a obra já sofreu 11 interrupções, seja por liminares que paralisam seu andamento, seja por manifestações de movimentos sociais, indígenas e moradores locais ou por invasões dos canteiros de obras.

Belo Monte é também o maior empreendimento em construção no Brasil. Orçada em R$ 26 bilhões, a hidrelétrica envolve 22 mil operários e irá consumir 3,7 milhões de m³ de concreto até ser concluída. A usina, e outras obras, fazem da região norte do país a que mais concentra megaconstruções. Os estados de Amapá, Amazonas, Pará e Rondônia englobam os seguintes projetos, além de Belo Monte: hidrelétricas Teles Pires (na divisa entre Pará e Mato Grosso), Santo Antônio (Rondônia), Jirau (Rondônia), São Luiz de Tapajós (Pará), Linhão Manaus-Tucuruí-Amapá (entre Amazonas e Amapá), Gasoduto Urucu-Coari-Manaus (Amazonas) e Arena Amazônia (Amazonas).


Rodoanel, em São Paulo: confiabilidade de que esteja 100% concluído até 2016 é alta.
Do complexo de obras que faz o Brasil aparecer com destaque na construção civil internacional, o único que deve ser concluído até 2014 é o que envolve os projetos da Copa do Mundo. Doze estádios e obras de mobilidade espalhados pelas subsedes irão consumir 8,6 milhões de m³ de concreto (5,1 milhões de m³ só nos estádios). Também se mostram confiáveis de serem concluídas até 2016 os seguintes empreendimentos: Rodoanel de São Paulo (trechos leste e norte), usina nuclear Angra 3 e Arco rodoviário do Rio de Janeiro. Tratam-se de construções que, além de recursos federais, contam com investimentos estrangeiros e estaduais e, por isso, estão mais rigorosas com o prazo de entrega.
O contraponto dessas obras com previsão para acabar é o que envolve a transposição do rio São Francisco. Iniciada em 2005, passados quase oito anos, a megaobra não tem cronograma de entrega definido. Só seu custo avança. Saiu de R$ 4,7 bilhões para R$ 8,2 bilhões, e somente 43% está concluído. 
O problema é que são trechos que não se interligam e que, portanto, ainda não têm condições de conduzir a água para o sertão nordestino – historicamente afetado pelas secas. Pela quantidade de problemas, é provável que a transposição do São Francisco seja concluída depois de uma obra similar que avança no Ceará: o Cinturão das Águas. Ele parte do sul do estado e envolve todo o território cearense. A 1ª etapa já foi entregue e vem beneficiando diretamente a produção de frutas no nordeste brasileiro.

Usina de Santo Antônio: uma das megaobras em andamento na região norte do país.
Confira as 14 megaobras do Brasil, em volume de concreto:
Obras da Copa – 5,1 milhões m3 (estádios) 3,5 milhões m3 obras de mobilidade
Hidrelétrica Belo Monte – 3,7 milhões m3
Hidrelétrica Santo Antônio – 3,2 milhões m3
Hidrelétrica Jirau – 2,8 milhões m3
Programas de saneamento – 2 milhões m3
Hidrelétrica São Luiz de Tapajós – 1,5 milhão m3
Transposição do São Francisco – 1,3 milhão m3
Rodoanel de São Paulo – 800 mil m3
Gasoduto Urucu-Coari-Manaus – 800 mil m3
Cinturão das Águas do Ceará – 600 mil m3
Hidrelétrica Teles Pires – 480 mil m3
Linhão Manaus-Tucuruí-Amapá – 240 mil m3
Usina nuclear Angra 3 – 200 mil m3
Arco rodoviário do Rio de Janeiro – 92 mil m3


Angra 3: após 23 anos parada, obra no Rio de Janeiro foi retomada em 2010 e avança rapidamente.
Entrevistados

Ministério do Planejamento, SUDAM (Superintendência do desenvolvimento da Amazônia) e governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará (via assessoria de imprensa)
                   www.rj.gov.br / www.sp.gov.br


Créditos fotos: Divulgação




Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330


http://empresaverde.blogspot.com.br/2013/05/das-50-maiores-obras-no-mundo-14-estao.html