quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CATADORES DE ESPERANÇA

A destinação inadequada de resíduos sólidos recicláveis é um sério problema da sociedade atual e denota a falta de consciência ambiental por parte desta mesma sociedade, por essência, consumista, e, como tal, geradora diariamente de cerca de 0,650kg de resíduos por habitante, dos quais, quase 70%  passíveis de reciclagem, porém, acabam tendo como destino final os terrenos baldios, fundos de vale, corpos d’água, lixões, aterros, sem que lhes sejam dados o destino adequado. 
Essa inadequação quanto ao destino, principalmente dos resíduos passíveis de reciclagem, além de gerar notórios danos ao meio ambiente, como a contaminação do solo e da água, gera também danos à saúde, devido ao fato de propiciar um ambiente adequado para a proliferação de vetores, como ratos, baratas que são causadores de doenças, e o mosquito Aedes Aegypti, transmissor do vírus da “dengue”.
Contudo ao observar-se o fator sócio-econômico, podemos concluir que a destinação incorreta dos resíduos passíveis de reciclagem gera também desperdício de recursos públicos e privados.

Públicos, pois grande parte destes resíduos terá como destino os “lixões” ou Aterros Sanitários, diminuindo assim a vida útil dos mesmos, praticamente obrigando o Poder Público, principalmente em âmbito municipal, a investir vultosas somas de recursos na aquisição e ou reestruturação de áreas para a destinação destes resíduos.
Privados, pois estes resíduos geram recursos financeiros na cadeia produtiva da reciclagem. E são nessa cadeia produtiva que estão inseridos os catadores de materiais recicláveis, sendo eles o elo mais frágil desta relação econômica.

Inúmeras pessoas encontraram na coleta de resíduos recicláveis a única forma de garantir a sua sustentabilidade, pois oprimidos pela falta de oportunidades no mercado de trabalho, devido a questões como a baixa escolaridade e falta de capacitação profissional, sendo explorados pelos “atravessadores” que adquirem o material, recolhido pelos catadores de rua por valores irrisórios, e os revende para as indústrias de reciclagem pelo valor de mercado, lucrando mais de 100% nesta transação. Os catadores seguem muitas vezes sem ter o devido reconhecimento e valorização da sociedade, a exercer sua atividade que contribui sobremaneira com a economia, o meio ambiente e com a saúde publica, uma vez que economizam recursos naturais e econômicos e evitam a procriação de vetores causadores de inúmeras doenças urbanas.

A primeira vez que me deparei em estudar a situação em profundidade foi em 2001, encontrando uma situação de total rejeição social e conseqüente exclusão econômica.
Com o intuito de garantir melhores condições de trabalho e renda para os catadores, é que participei a partir de 2001 da idealização das primeiras ações de um programa de busca de apoio e resgate de direitos aos catadores da cidade, participação essa que fazia como mero militante da ONG ADEAFI – Associação de Defesa e Educação Ambiental de Foz do Iguaçu entidade que desde 2009 atuo como presidente.

Jorge Samek faz entrega do primeiro carrinho a ARAFOZ em 2003

Naquele momento foi fundamental o apoio que o então presidente da Câmara Municipal Dilto Vitorassi deu a organização dos catadores, quando então foi fundada a Associação dos Recicladores Ambientais de Foz do Iguaçu - ARAFOZ. Posteriormente o fator mais determinante na construção de uma política de inclusão dos catadores foi à adoção da proposta pela Itaipu Binacional, fazendo surgir o programa que recebeu o nome de Coleta Solidária em 2003.
Outro passo que consolidou a proposta como política pública municipal foi em 2005, quando o programa passou a ser oficialmente o programa de coleta seletiva do município com o subtítulo “Coleta Seletiva Sem Catador é Lixo”.

Hoje os carrinhos doados pela Itaipu são movidos a eletricidade.

Depois disso, veio também o financiamento a fundo perdido de aproximadamente 1 milhão de reais em barracões, caminhões, equipamentos, etc. para a Cooperativa dos Agentes Ambientais de Foz do Iguaçu - COAAFI pelo BNDES.

Até hoje Itaipu, Prefeituras, ONGs como o Instituto Lixo e Cidadania e ABIPLA – Associação Brasileira da Indústria do Plástico são estratégicas na sustentação de uma política de coleta seletiva com inclusão social em toda a nossa região.
Muito ainda falta para que os catadores se tornem totalmente independentes e senhores do seu belo futuro, eles ainda estão no início da construção do seu caminho, mas já não andam nessa estrada desacompanhados de parceiros e de esperança.

Você quer que seja abordado algum tema ambiental específico?

Mande suas dúvidas ou sugestões para o e-mail: naturalmenteambiental@gmail.com

                                       
Andre Alliana, é formado em Gestão Ambiental, atua como Consultor, Gestor e Perito Ambiental, é ex-Secretário Municipal do Meio Ambiente de Foz do Iguaçu, já foi membro titular do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA e Representante da Regional Sul da ANAMMA - Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente atualmente também preside a ADEAFI – Associação de Defesa e Educação Ambiental de Foz do Iguaçu;

2 comentários:

  1. Po Andre, voce poderia ter citao seu amigo aqui, que deu uma contribuição pequena neste projeto, do qual alias, me orgulho muito.

    Quanto ao gringo, independente das divergencias políticas, ele sempre foi defensor da parcela mais humilde da população de Foz, e justiça seja feita,o nome dele tem que constar na história desta luta!

    Abraços!

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  2. Verdade. A Adriano foi um dos grandes Catadores da Esperança nesse processo. Sem ele e seu espirito de liderança o inicio da organização dos Catadores em Foz do Iguaçu não se sustentaria.

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