quinta-feira, 31 de março de 2011

Como evitar conflito de interesse nas análises de impacto ambiental?

Vários analistas têm avaliado as causas da crise financeira para desenhar maneiras de evitá-la no futuro. Algumas das análises são úteis para as crises ambientais.

Segundo o economista Nouriel Roubini, um dos culpados pela crise financeira foram as agências de avaliação de risco. A função delas é avaliar a probabilidade de devedores pagarem suas dívidas. Desta forma, elas ajudariam os investidores a alocar seus investimentos com base no risco.

Originalmente, os investidores é que pagavam as agências para realizar as análises. Porém, o sistema mudou.

Quem passou a pagar pelas análises foram os emitentes de dívidas. Além disso, as agências passaram a dar consultoria para os emitentes sobre como deveriam estruturar a emissão de dívidas de maneira a obter uma boa classificação de risco. Estas duas situações caracterizam um enorme conflito de interesses já que as agências passaram a receber mais à medida que os emitentes de dívidas eram aprovados com boas avaliações de risco.

O que isso tem a ver com crises ambientais? No Brasil as empresas que propõe um investimento pagam para consultorias realizarem estudos de impacto ambiental. Além de avaliar os impactos, a consultoria propõe as medidas para compensar ou reduzir os danos que serão causados pelo investidor. Funcionários dos órgãos ambientais avaliam os estudos e aprovam ou não as medidas propostas.

Este sistema envolve o mesmo tipo de conflito de interesse das agências de classificação de risco financeiro. Quem paga os estudos tem interesse em que os riscos sejam ignorados ou subestimados. Já ouvi relatos de que consultorias cedem à pressão ou ao bônus de atender os investidores. Por outro lado, os funcionários dos órgãos públicos que devem avaliar os relatórios não têm o tempo nem os recursos para avaliá-los adequadamente.

À medida que vários investimentos vão sendo aprovados sem uma devida análise de impacto, corremos o risco de crises ambientais em larga escala assim como aconteceu na crise financeira.

Como resolver? Para tornar a análise de risco mais isenta Noriel Roubini sugere várias medidas. Dentre elas que os investidores contribuam para um fundo cujos recursos pagariam as análises de risco sem interferência de quem emite a dívida.

Este conceito poderia ser transplantado para a análise de risco ambiental. Neste caso, os investidores contribuiriam para um fundo público e os órgãos ambientais contratariam consultorias independentes para avaliar o risco. A contribuição para o fundo seria estabelecido com base na escala do empreendimento.

Noriel Roubini  e Stephen Mihm apresentam suas análises no livro A economia das Crises.

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