terça-feira, 29 de março de 2011

O DIPLOMA ESTÁ CADA VEZ MAIS VERDE

Ligadas na necessidade de formar novos profissionais voltados para o meio ambiente e a sustentabilidade, universidades têm valorizado mais esses temas no currículo dos cursos.


Ano após ano, quem está sentado nas carteiras da universidade se vê mais próximo da sustentabilidade e do meio ambiente. Seja em cursos que não têm ligação direta com essas questões ambientais ou naqueles que já trazem a sustentabilidade na sua essência, o meio universitário está mudando pela exigência do mercado. Empresas querem profissionais aptos a lidar com os impactos ambientais dos negócios.
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-PR), o engenheiro agrônomo Álvaro Jr. Cabrini Júnior, a inclusão de temas ambientais nas faculdades é necessária e justificável. “A área é fundamental, pois sem o meio ambiente não existe sustentabilidade. Temos de produzir alimentos e energia e preservar o planeta. E não dá para preservar o planeta sem produzir, ou a existência humana sucumbe”.

As empresas precisam ter uma gestão ambiental e, no Paraná, as auditorias são obrigatórias, o que amplia a área de atuação dos estudantes que buscarem uma formação nessa área, segundo a bióloga Tamara Simone Van Laick, mestre em Inovação Tecnológica e doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os profissionais “verdes” podem trabalhar como auditores ou consultores ambientais, treinar funcionários de empresas para a gestão ambiental, atuar junto do profissional de saúde e segurança no trabalho e cuidar do dimensionamento de estações, ensaios de tratabilidade, planos de gerenciamento de resíduos sólidos, plano de tratamento das emissões atmosféricas e tratamento de afluentes, entre outras atribuições. “Temos muitos alunos se formando como técnicos em gestão ambiental. A diferença principal entre eles e o engenheiro ambiental é que este pode assinar projetos para construção de obras”, explica Tamara.

O desafio na sala de aula

Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), novos cursos e disciplinas estão sendo criados para atender essa demanda, que também vem dos alunos. O curso de Engenharia Ambiental está sendo ofertado em novos câmpus e os mais recentes Tec¬nologia em Processos Ambientais e Tecnologia em Gestão Ambiental têm atraído cada vez mais estudantes. O diretor de graduação da UTFPR, Álvaro Peixoto de Alencar Neto, explica que mesmo nos cursos que não têm como característica principal a questão, o tema é trabalhado. “Há uma indicação nas diretrizes da instituição que os cursos devem incluir abordagens de questões de sustentabilidade. Mas a forma como cada um vai fazer isso é algo que ainda precisa ser discutido. Acrescentar uma disciplina não resolve a questão nem cria no aluno a cultura desejada. Ninguém tem uma fórmula pronta, mas sabemos que é necessário que as instituições não fiquem só nisso. Elas precisam ter ações integradas com outras disciplinas para discutir a questão”, conta.

A inserção dos temas ecológicos como transversais ao longo da formação é defendida pelo coordenador do programa de mestrado e doutorado em Gestão Ambiental da Universidade Po¬-sitivo, Mário Sérgio Michaliszyn. “Pode haver uma disciplina específica, mas ela não pode estar isolada. Assim como esses temas são transversais no ensino fundamental e no médio, devem ser tratados dessa forma também nas graduações”, afirma. Ele comenta que ainda há uma longa caminhada até que o ensino superior esteja maduro. “Embora os problemas ambientais estejam interferindo na nossa vida, esse ainda não é um conhecimento priorizado. Se analisar a grade curricular dos cursos de graduação de uma forma geral, poucos são os que contemplam essa questão dentro das diferentes disciplinas”, afirma.

Na grade
Confira exemplos de disciplinas que vêm sendo inseridas nos cursos universitários brasileiros:

- Projetos Sustentáveis
- Biodiversidade
- Monitoramento ambiental
- Ecoestratégia
- Ciências Ambientais
- Desenvolvimento Sustentável
- Direito Ambiental
- Agroecologia
- Energias renováveis
- Auditoria ambiental


De olho no mercado

“Não é modismo, é necessidade”, afirma o engenheiro civil José Fernando Arns, mestre em Planejamento de Cidades e doutor em Gestão Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Arns é coordenador do projeto EcoHabitare, desenvolvido na instituição para aproximar os alunos ao mercado sustentável. Pelo projeto, estudantes de onze departamentos diferentes podem ter acesso a vivências de sustentabilidade, com foco na busca de soluções para o lixo e resíduos industriais.

“As empresas que contratam profissionais e estagiários voltados para a sustentabilidade estão colocando uma semente dentro da própria empresa. Por isso é muito valorizado um gestor ou um funcionário que tenha esse perfil e que queira trabalhar nessa área”, diz. O professor conta que apenas cerca de 7% das empresas da construção civil reciclam o lixo da obra (chamado de entulho) e que isso é exemplo de como o mercado ainda pode absorver muita mão de obra especializada em questões ambientais.
Para o presidente do Crea-PR, Álvaro Cabrini Júnior, o mercado precisa de profissionais e tecnologias voltados para o meio ambiente para mudar essa realidade. “Se as empresas não reciclam, é porque falta conhecimento, tecnologia, mercado regulado e mão de obra. Somente novas tecnologias e um novo profissional, com uma nova visão e propostas inovadoras, podem fazer com que o mercado absorva uma mudança de paradigma”, diz.

Fonte: Gazeta do Povo

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