terça-feira, 13 de agosto de 2013

Estrada do Colono, uma Estrada/Parque que não se justifica.


O projeto de lei do deputado Assis de Couto (PT-PR), que propõe reabrir uma estrada desativada desde 2003, no Parque Nacional de Iguaçu, pretende alterar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC.
É uma tentativa de abrir um precedente para construir estradas em todos os outros parques nacionais do Brasil, onde houver interesse econômico, pois o conceito de estrada-parque, apresentado pelo projeto de lei, não existe no sistema brasileiro de unidades de conservação. Trata-se de um modelo adotado na Europa e nos EUA, em parques que têm paisagens exóticas. No caso da Estrada do Colono a única justificativa é cortar o caminho entre um local e outro e nunca ser uma estrada-parque onde os que ali transitam o fazem para poder conhecer aquele parque.
O grande risco dessa proposta é a fragmentação do Parque Nacional do Iguaçu e o território de espécies tradicionais, além de ser um vetor da entrada de espécies exóticas, caçadores, palmiteiros. Além disso, o próprio uso da estrada causaria o assoreamento dos cursos d’água, ou seja, problemas ambientais que vão contra os objetivos do Parque Nacional.
O parque nacional foi criado em 1939, e unido pelo rio Iguaçu ao Parque Nacional Iguazú, na Argentina, o parque integra o mais importante contínuo biológico do Centro-Sul da América do Sul, com mais de 600 mil hectares de áreas protegidas e outros 400 mil em florestas ainda primitivas. Se considerados os corredores de biodiversidades existentes o Parque serve também como elo entre o Parque Nacional do Turvo no RS e o Bioma do Pantanal através do maciço de proteção florestal de 200m ao longo do lago da Itaipu Binacional.
 Fazendo um retrospecto de sua história, A Estrada do Colono, foi utilizada durante muito tempo para ligar o oeste com o sudoeste do estado do Paraná através do Parque Nacional do Iguaçu. Era uma estrada de terra, trecho de uma rodovia federal, que estava sendo asfaltada, mas que quando chegou às margens do parque, na época (1986) a ADEAFI - Associação de Defesa e Educação Ambiental de Foz do Iguaçu entrou com uma ação na Justiça para impedir o asfaltamento dentro do parque. Através dessa ação, a Justiça Federal determinou o fechamento da estrada por considerar que ela não tinha tanta importância, e poderia contribuir para a preservação do parque. O órgão gestor do parque à época era o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF, o qual foi arrolado como réu e teve de fechar a estrada. A partir daí instalou-se um conflito, e até hoje se discute a abertura ou não da estrada.
Hoje essa estrada não tem uma importância para os municípios envolvidos, segundo avaliação do fluxo de produção e da malha viária da região. Então, tudo que é produzido dos dois lados do parque, quando precisa ser exportado, tem saída a oeste, para a Argentina ou Paraguai, ou no sentido leste, para Paranaguá. Então, essa estrada é vista como um atalho que diminui a distância das pessoas que estão indo do sul para o norte, e que gostariam de cortar caminho por dentro do parque. A Itaipu chegou a realizar estudos socioeconômicos que comprovaram que foi mínimo o impacto econômico se comparado o período que ela ficou ilegalmente aberta por 4 anos entre 1997 e 2001 e o período posterior ao fechamento definitivo.
  Considerando a importância do parque para a humanidade, não se justifica a abertura da estrada para favorecer um grupo pequeno de pessoas.
Os representantes da classe política brasileira deveriam ter a obrigação de refletir sobre o tema, não sob a ótica de quem vive, ou  depende da região, somente pensando no seu curral eleitoral, mas sim com o olhar de quem vê o Brasil como um todo, e nesse aspecto, só poderiam optar por defender a preservação integral de um Patrimônio Natural da Humanidade, justamente por ser a maior e mais importante área de conservação da nossa Mata Atlântica.
Como atual presidente da ADEAFI tenho atuado ativamente nessa luta histórica da entidade, participei de quase todas as audiências públicas. Em uma delas, realizada em Serranópolis do Iguaçu, fui o único que se manifestou contrário à reabertura da estrada, apresentando justificativas ambientais irrefutáveis e quase sendo agredido fisicamente ao final da audiência.
Acredito que muito ainda se pode propor para evitar ao máximo os prejuízos óbvios que a mesma trará a fauna e a flora daquela região do Parque Nacional.
Uma coisa é certa sem o contra ponto das ONGs ambientais, não teríamos mais o bioma da mata atlântica e do bioma amazônico pouco teria sobrado.
O desejo imediato de crescimento econômico infelizmente move os homens da atualidade, assim como o desejo pela sobrevivência moverá os homens do futuro a lutar com todas as suas forças pela recuperação ambiental.
O que vemos é a luta dos interesses do presente em disputa com os interesses do futuro, e como ninguém do futuro vem para lutar agora, infelizmente corre maior risco de perder essa luta insana.
*Andre Alliana é o atual Presidente da ADEAFI - Associação de Defesa e Educação Ambiental de Foz do Iguaçu, entidade que em 1986 fez a denuncia judicial que provocou o fechamento da estrada.

Um comentário:

  1. Muito bom André, vou socializar nos meus contatos, quem sabe mais gente lendo as coisas mudam. È formando mentes que movemos o mundo.
    Abraço

    ResponderExcluir