quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O que Foz do Iguaçu tem a ver com a usina de Belo Monte?

MANIFESTO

(*) MANIFESTO - Xingu Vivo para sempre / Guarani Kararao
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu

Temos que aprender com os erros do passado. Esse é um dos conselhos mais repassados pela humanidade. Mas como é difícil entender os nossos erros. Mais complicado ainda é fazer dele uma lição para um futuro melhor. Pois é bem isso que está acontecendo no Brasil, que está esquecendo o que ACONTECEU NO OESTE DO PARANÁ E NAS TRÊS FRONTEIRAS EM NOME DO PROGRESSO.

Milhares de pessoas estão alertando o mundo sobre os reflexos da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. FOZ DO IGUAÇU deve contribuir com esse debate. Afinal a experiência com a ITAIPU BINACIONAL coloca a nossa cidade no centro dessa discussão. Sentimos na pele as conseqüências da construção da maior usina hidrelétrica do mundo. Sabemos os reflexos sociais e econômicos de uma megaobra. Contar a nossa história pode ajudar a evitar o massacre de milhares de pessoas e a devastação do meio ambiente na Amazônia.

Belo Monte é um projeto irracional do ponto de vista econômico, ineficiente do ponto de vista energético, ilegal juridicamente, desastroso ambientalmente e destruirá a vida do povo do Xingu. Tudo isso sem falar que é questionado pela Organização dos Estados Americanos. QUEM TEM A GANHAR COM ISSO?

Os reflexos de Itaipu
A Tríplice Fronteira nunca mais foi a mesma após a chegada de Itaipu. Foz do Iguaçu, cidade mais distante dos grandes centros urbanos brasileiros, abrigou um dos mais ambiciosos projetos do governo militar brasileiro, a partir de meados dos anos 70, que foi a construção da maior usina hidrelétrica do mundo, a Usina de Itaipu.

Envolvendo milhares de trabalhadores oriundos dos mais distantes e diversos locais do Brasil e do Paraguai, a obra foi uma tração que não beneficiou a todos. A cidade de Foz do Iguaçu passou por um acelerado processo de reorganização que desestruturou a vida cotidiana de seus antigos moradores.

A maioria daqueles que acorreram à obra, não conseguiram emprego ou tiveram uma breve passagem por ela. Ao final das obras, a cidade de Foz do Iguaçu passou a conviver com uma imensa massa de desempregados ou subempregados, vivendo de trabalhos informais, crianças esmolando pelas ruas, favelas que se multiplicaram nas áreas centrais da cidade, além de um alto índice de criminalidade.

Essa nova realidade demandou do poder público medidas repressivas e um intenso controle das “classes perigosas”, que passaram a ameaçar as elites locais.

• Com a construção da Itaipu Binacional a população passou de 34 mil para 136 mil habitantes (1970 a 1983)
• Inchaço populacional causou o caos social, que até hoje tenta ser reparado
• Milhares de pessoas ficaram desabrigadas
• Dezenas de espécies da fauna e flora sumiram do mapa
(Trecho do livro “O cotidiano de uma fronteira – A persevidade da modernidade”,Luiz Eduardo Pena Catta, Edunioeste, 2003) ============================================================

O impacto de Belo Monte
• Cerca de 100 mil pessoas devem chegar à região, atraídas pela usina. No pico da obra serão contratados 19 mil. O que farão os outros 81 mil nessa região recordista de conflitos, violência e desmatamento?
• Mais de 50 mil pessoas serão expulsas de suas casas e terras ;
• Belo Monte secará 100 km do Rio Xingu, acabando com toda a biodiversidade local de uma das áreas mais importantes o equilíbrio climático do planeta;
• Belo Monte provocará impactos nas aldeias indígenas (como a falta de acesso à água, o fim da pesca e da navegalidade, além do intenso fluxo de máquinas e tratores;
• Mais de 15 mil indígenas sofrerão as consequências de Belo Monte;
• O reservatório vai alagar cerca de 640 km2 (Curitiba tem 435 km2);
• Belo Monte será responsável pela extinção de centenas de espécies e extermínio de milhares de animais do ecossistema Amazônico;
• A usina terá impactos na infra-estrutura, já bastante sucateada, de 11 municípios, totalizando uma população de mais de 260 mil pessoas;
• E vejam só: Belo Monte vai produzir, em média, apenas 39% dos 11 mil megawatts de energia que o governo promete. Na seca do Xingu, não vai produzir quase nada.
Diante de tantos impactos socioambientais, por que o governo insiste nesse formato projeto?
Por que não investir em outras alternativas de energia?
Você concorda em financiar esta atrocidade?
Que tal discutir outra forma para a hidrelétrica?

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Uma voz global
O movimento em defesa do Xingu tem crescido no Brasil e no exterior. Milhares de pessoas têm se organizado via sindicatos, associações, movimentos sociais, estudantis, artistas, intelectuais etc para defender esse patrimônio da humanidade e da natureza. Em 20 de agosto, por exemplo, foi realizado o Ato Mundial contra Belo Monte. Foi um dia em defesa dos povos, da floresta e dos rios da Amazônia. Também repudiou a construção de barragens de Belo Monte no Xingu.

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Vitória na Justiça
A relatora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Maria de Almeida, votou a favor do decreto que considera ilegal a instalação da Belo Monte. O julgamento foi adiado após pedido de vista. O decreto foi ao Tribunal após pedido do Ministério Público Federal no Pará. Para o MPF, o fato de as comunidades indígenas afetadas não terem sido ouvidas devidamente sobre o assunto é inconstitucional. Por outro lado, convocado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos a participar de uma audiência sobre o não cumprimento de medidas cautelares de protecão das populações indígenas do Xingu, o Governo Federal anunciou que não comparecerá.
A hidrelétrica de Belo Monte é uma violação aos direitos humanos e uma ameaça à integridade ambiental do Brasil.
Belo Monte vai custar R$ 30 bilhões. O governo brasileiro, via BNDES,vai financiar 80% dessa dinheirama, com juros abaixo do mercado e prazo de 30 anos para pagar. Esse é o maior financiamento da história do BNDES, um banco público. E parte desse dinheiro vai pro bolso das empreiteiras que financiaram as campanhas eleitorais.

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Você lembra disso?
Ontem sacrificaram os povos e moradores ribeirinhos do Rio Paraná, acabaram com 7 Quedas, prejudicaram o Paranazão e o meio ambiente da nossa região. E agora?

Adeus 7 Quedas

Faz-se do movimento uma represa,

da agitação faz-se um silêncio

empresarial, de hidrelétrico projeto.

Vamos oferecer todo o conforto

que luz e força tarifadas geram

à custa de outro bem que não tem preço

nem resgate, empobrecendo a vida

na feroz ilusão de enriquecê-la.

Sete boiadas de água, sete touros brancos,

de bilhões de touros brancos integrados,

afundam-se em lagoa, e no vazio

que forma alguma ocupará, que resta

senão da natureza a dor sem gesto,

a calada censura e a maldição

que o tempo irá trazendo?


(Carlos Drummond de Andrade)

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Capitalismo x meio ambiente
"A lógica do capital é essa: produzir acumulação mediante a exploração. Primeiro, exploração da força de trabalho das pessoas, em seguida a dominação das classes, depois o submetimento dos povos e, por fim, a pilhagem da natureza. Funciona aqui uma única lógica linear e férrea que a tudo envolve e que hoje ganhou uma dimensão planetária.

Uma análise mesmo superficial entre ecologia e capitalismo identifica uma contradição básica. Onde impera a prática capitalista se envia ao exílio ou ao limbo a preocupação ecológica. Ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível. Se, apesar disso, a lógica do capital assume o discurso ecológico ou é para fazer ganhos com ele, ou para espiritualizá-lo e assim esvaziá-lo ou simplesmente para impossibilitá-lo e, portanto, destrui-lo. O capitalismo não apenas quer dominar a natureza. Quer mais, visa arrancar tudo dela. Portanto se propõe depredá-la."

(Leonardo Boff, teólogo)

Não a Belo Monte! Pela vida no Xingu!

(*) Texto Manifesto assinado pelas entidades Xingu Vivo para sempre, Guarani Kararao,
Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu.
Publicado origináriamente no site Guatá Cultura em Movimento. Para acessa-lo diretamente do site em questão basta clicar no título.

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